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segunda-feira, 8 de março de 2010



Dois palmos de língua e um cansaço pendente na trela. Afinal morrer é isto. O cão urina na perna do rapaz que observa ainda a quente, a sua morte no passeio estendida. Lá segue o nórdico canino livremente a vida, sem casota nem dono, procurando apenas uma fêmea que o console. O rapaz espera o resgate divino, mas só lhe aparece um velha e uma bengalada na costas. Drogados! - exclama a alma desdentada e segue o carreiro do cão, zuca zuca, apoiada nas três patas. Mas eis que tudo se transforma quando um rapaz amigo, o amigo deste rapaz, se lembra do célebre boca a boca, cuja saliva é aqui substituida, por uma coca-cola de lata. O milagre do capitalismo! Que grande e temível excitação: começam então a chover dólares em Vila do Conde e o rapaz ressuscitado do casual estrangulamento, põe-se a imigar pensamentos alheios, em vez de pôr notas ao bolso. Agarra-se com dentes e unhas às efabulações dos vizinhos e percebe que alguns são dementes, pois guardam nas despensas interiores material subversivo, maços de notas e detergentes. O melhor será estrangular-se novamente, ouvir vozes é coisa de gente doente. Lá procura então plo canino berlinense, o letal agressor antigo, mas depois de muito percorrer, chega à conclusão que o melhor será esperar e crescer. Deitar-se apenas na cama. Para rapaz, já pensa demais. E pumba, cai-lhe o tecto do quarto. Em cima.